Dois gigantes do varejo chileno, Falabella, que domina os mercados de lojas de departamento, decoração e shopping centers, e D&S, líder no setor de supermercados, negociaram ao longo do ano passado a fusão de seus negócios de olho no mercado latino-americano. Mas no fim de janeiro, em plenas férias de verão, o tribunal chileno de defesa de concorrência jogou um balde de água fria no plano e vetou a operação.
Gastou-se o mês de fevereiro em análises sobre a possibilidade de insistir e defender a fusão diante da Justiça comum. A idéia foi jogada fora no início da semana passada e, agora, os dois grupos reavaliam suas estratégias de expansão no exterior, de olho, também, no Brasil, onde já está o grupo Cencosud, que em 2007 comprou a rede de supermercados G.Barbosa.
O modelo de negócio do Cencosud, o de varejo integrado - vários tipos de negócio debaixo de um guarda-chuva financeiro -, foi discutido pelas famílias Ibañez e Solaris, donas de D&S e Falabella num almoço em Lima (Peru) no início do ano passado.
"Pensávamos que era chegado o momento de fazer uma 'Nokia chilena'. Uma superempresa vinda de um país pequeno, como é a Nokia (da Finlândia)", diz Claudio Hohmann, gerente de assuntos corporativos da D&S.
A idéia parecia perfeita. A fusão permitiria à Falabella ter, do dia para a noite, a maior rede de supermercados do Chile em seu portfólio, e a D&S entraria no mercado externo - a rede de supermercados Tottus da Falabella, no Peru, passaria às mãos da D&S. O futuro grupo, com vendas líquidas em torno de US$ 11 bilhões e lucro de US$ 600 milhões em 2007, teria fôlego para vôos mais altos, incluindo o Brasil, considerado um mercado complexo por seu tamanho, idioma e hábitos diferentes dependendo da região. Outra varejista chilena, aliás, a Farmácias Ahumada - grande rede de drogarias que faturou US$ 1,7 bilhão no ano passado - chegou a ter negócios no Brasil, mas saiu. "São vários países dentro de um", observa uma fonte da Falabella.
O tribunal de defesa de concorrência, porém, avaliou que a fusão seria um negócio formidável para os dois grupos, mas não para o consumidor. Batido o martelo, executivos da Falabella e da D&S ouvidos pelo Valor afirmam que a internacionalização continua sendo prioridade e as duas empresas estão abertas a propostas de investimentos fora do Chile. Circulou nos jornais chilenos a possibilidade de os dois grupos unirem operações apenas no exterior, mas esta seria uma fórmula difícil de aplicar. Peru e Colômbia são considerados mercados interessantes pela D&S, pois o setor de supermercados não está muito desenvolvido nesses países. E no Peru a D&S já tem uma fatia de 35% do Alvi, atacadista que tem também uma rede de supermercados.
O mercado brasileiro é considerado complexo por seu tamanho, idioma e hábitos diferentes dependendo da região
Para ganhar mais eficiência nas operações financeiras, a D&S também está retomando a conversa com o banco espanhol BBVA, suspensa no ano passado. O cartão de crédito Presto, da D&S, tem 1,7 milhão de clientes - o CMR da Falabella, tem 4,5 milhões, mas é administrado pelo banco da Falabella. A concessão de crédito pelos varejistas no Chile tomou forte impulso a partir do início dos anos 80, quando uma séria crise impôs restrições aos bancos. "Desde então, o varejo tomou o financiamento como ponto central de seu negócio", lembra Hohmann.
Outra modalidade que cresce a olhos vistos em Santiago, e em outras partes do Chile, é a construção de shopping centers. A Falabella é a líder do setor, mas a concorrência também investe nesse modelo. Nos últimos cinco anos, a D&S inaugurou sete.
Ainda não há previsão de quantos shoppings a companhia abrirá neste ano, mas o plano, segundo Hohmann, é aumentar o número total de lojas dos atuais 160 para 200, considerando as bandeiras Líder (de hiper e supermercados para a renda mais alta), Ekono (lojas menores, mais populares) e Bodega Acuenta (unidades de baixo custo).
A expansão fora do Chile é prioritária, mas a D&S não pode dormir tranqüilamente no posto de primeiro lugar no setor de supermercados no Chile. Ela tem 33% do mercado, mas a Cencosud vem se aproximando nos últimos anos, comprando cadeias regionais, de menor porte, e já está com cerca de 30% das vendas totais.
Um recém-chegado no setor é o grupo Saieh, dono de banco, que em 2007 comprou a rede Unimarc, que opera fora de Santiago. A fatia deste é de 11%. A rede Tottus, de hiper e supermercados da Falabella, fica com uma participação entre 4% e 5%. Ou seja, quatro grupos têm nas mãos 80% do mercado. A Falabella, por sua vez, tem um plano importante de investimento até 2011. Nesse período planeja investir cerca de US$ 2,6 bilhões para duplicar o número de lojas Falabella, construir mais shoppings e crescer na Colômbia e no Peru, onde já está presente. Seu primeiro investimento no exterior foi feito na Argentina, em 1993.
O plano para a rede Tottus, de supermercados, ainda será anunciado. Um executivo da Falabella disse ao Valor que não há um país, de México para baixo, que a empresa não tenha pesquisado nos últimos dez anos. "Obviamente analisamos o Brasil, que não é um país só. E não vejo a Falabella fora do Brasil nos próximos dez anos."
Fonte: Varejista
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